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quarta-feira, 5 de março de 2014

A pseudo alma feminina: "Senhora" e o olhar do século XIX sobre a mulher



                    PRAÇA JOSÉ DE ALENCAR - FLAMENGO - RIO DE JANEIRO

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)


Parte I

A postagem que ora se inicia é um superficial estudo sobre o magnífico romance Senhora, do escritor romântico José Martiniano de Alencar, que, nascido em 1829, no Ceará, falece muito jovem ainda, aos 48 anos (1877), o que permite ao público imaginar – uma vasta obra escrita em tão pouco tempo e mais de um romance em um mesmo ano –, que obra não teríamos, se nos fosse dada a sorte de ele ter vivido mais anos: os romances indianistas O guarani (1857), Iracema (1865) e Ubirajara (1874); os urbanos ou de costumes Cinco minutos (1856), A viuvinha (1857), Lucíola (1862), Diva (1864), A pata da gazela (1870), Sonhos d'ouro (1872), Senhora (1875) e Encarnação (1877 - publicação póstuma); os regionalistas O gaúcho (1870) O tronco do Ipê (1871), Til (1871) e O sertanejo (1875); os históricos As minas de prata (1865-1866) e A guerra dos mascates (1871-1873). O guarani é um verdadeiro romance épico.
Num olhar atento, percebe-se o plano nacionalista que Alencar seguiu de abarcar o Brasil em todas as suas variações geográficas, culturais e históricas, desde sua origem. Comparece-se apenas, por exemplo, O sertanejo (região Nordeste), O gaúcho (região Sul) e os vários romances urbanos, cujas tramas transcorrem no Rio de Janeiro.
Senhora é uma análise da sociedade brasileira urbana do século XIX. No romance, são abordadas, com olhar crítico, várias instituições sociais da época, como o casamento das classes favorecidas economicamente através de uma transação comercial. A par deste aspecto, outros costumes sociais vêm à tona.
Aurélia, a heroína-título, a príncipio paupérrima, que, ao contrário das mocinhas da época – à primeira vista, a protagonista parece contrariar o perfil de mulher de então –, não treme por um casamento, vê frustrado, no entanto, seu desejo de realização puramente amorosa, justamente subjugado aos ditames sociais do contrato de núpcias comercial, o que dá ensejo ao enredo envolvente do romance. A herança que recebe – no Romantismo quase sempre havia uma inesperada herança – permite realizar uma vingança contra o amado vendido para outra. Desse modo, a trama é dividida em quatro partes e os títulos procuram denunciar, não só a intenção de Aurélia ao “comprar” Fernando Seixas, como mostrar a crítica feroz que a mesma empreende contra a sociedade que a maltratara, usando seu próprio veneno: “Primeira parte: O preço”; “Segunda parte: Quitação”; “Terceira parte: Posse” e “Quarta parte: Resgate”.
O estudo ora iniciado e continuado em postagens posteriores tem como finalidade, na verdade, mostrar como, apesar das intenções de análise e crítica social, Alencar não consegue fugir da visão da época – está preso a ela, como qualquer um, pois é a “sua” época – e submerge nas comuns concepções de então sobre a mulher, concepções, aliás, que ainda continuam a ser repetidas até hoje.

ESTE ESTUDO CONTINUA NA POSTAGEM SEGUINTE.

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